quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Uma rosa amarela - Jorge Luis Borges



      Nem naquela tarde nem na outra morreu o ilustre Giambattista Marino, que as bocas unânimes da Fama (para usar uma imagem que lhe foi cara) proclamaram o novo Homero e o novo Dante, mas o fato imóvel e silencioso que então ocorreu foi na verdade o último de sua vida. Cumulado de anos e de glória, o homem morria em um vasto leito espanhol de colunas lavradas. Nada custa imaginar a poucos passos uma serena sacada que olha para o poente e, mais abaixo, mármores e loureiros e um jardim que duplica suas gradarias em uma água retangular. Uma mulher pôs em um copo uma rosa amarela; o homem murmura os versos inevitáveis que a ele mesmo, para falar com sinceridade, aborrecem um pouco: 

Púrpura do jardim, pompa do prado, 
gema da primavera, olho de abril...

      Então ocorreu a revelação. Marino viu a rosa, como Adão pôde vê-la no Paraíso, e sentiu que ela estava em sua eternidade e não em suas palavras, e que podemos mencionar ou aludir mas não expressar e que os altos e soberbos volumes que formavam em um ângulo da sala uma penumbra de ouro não eram (como sua vaidade sonhara) um espelho do mundo, mas uma coisa a mais agregada ao mundo. 

      Esta iluminação alcançou Marino na véspera de sua morte, e Homero e Dante talvez a tenham alcançado também.

           Jorge Luis Borges, in O fazedor (1960).


Una rosa amarilla


      Ni aquella tarde ni la otra murió el ilustre Giambattista Marino, que las bocas unánimes de la Fama (para usar una imagen que le fue cara) proclamaron el nuevo Homero y el nuevo Dante, pero el hecho inmóvil y silencioso que entonces ocurrió fue en verdad el último de su vida. Colmado de años y de gloria, el hombre se moría en un vasto lecho español de columnas labradas. Nada cuesta imaginar a unos pasos un sereno balcón y un jardín que duplica sus graderías en un agua rectangular. Una mujer ha puesto en una copa una rosa amarilla; el hombre murmura los versos inevitables que a él mismo, para hablar con sinceridad, ya lo hastían un poco: 

                Púrpura del jardín, pompa del prado, 
                gema de primavera, ojo de abril...

      Entonces ocorrió la revelación. Marino vio la rosa, como Adán pudo verla en el Paraíso, y sintió que ella estaba en su eternidad y no en sus palabras y que podemos mencionar o aludir pero no expresar y que lo altos y soberbios volúmenes que formaban en un ángulo de la sala una penumbra de oro no eran (como su vanidade soñó) un espejo del mundo, sino una cosa más agregada al mundo.

      Esta iluminación alcanzó Marino en la víspera de su muerte, y Homero y Dante acaso la alcanzaron también. 


        Jorge Luis Borges, in El hacedor  (1960). 



Poemas:
O remorso / El memordimiento
Outro poema dos dons
Cristo na cruz
Delia Elena San Marco


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