quinta-feira, 4 de julho de 2013

... cinco sextos das pessoas são canalhas, néscias ou imbecis - Arthur Schopenhauer

Num mundo em que pelo menos cinco sextos das pessoas são canalhas, néscias ou imbecis, é preciso que o retraimento seja a base do sistema de vida de cada indivíduo do outro sexto restante – e quanto mais ele se distanciar dos demais tanto melhor. A convicção de que o mundo é um deserto, em que não se pode contar com companhia, deve se tornar uma sensação habitual. Assim como as paredes limitam o olhar, que de novo se amplia tão logo se tenha diante de si campos e descampados, assim também a companhia humana limita meu espírito, e a solidão de novo o amplia. Giordano Bruno diz que o homem comum, normal, civil e urbano, que procura e alcança a verdade, torna-se um homem selvagem, semelhante a um cervo ou eremita; e que todos aqueles que neste mundo quisessem fruir uma vida superior decerto diriam em uníssono: vede, fugi para longe e permaneci na solidão (Salmos, 55, 8). Pois a ocupação com coisas divinas os torna mortos para a multidão. De maneira semelhante expressou-se Kleist, com louvor de Schiller:

Um homem de verdade tem de ficar distante dos homens.

Num mundo tão irrestritamente comum, todo aquele que for extraordinário irá necessariamente se isolar, e de fato se isola. Quanto mais o homem se isola da companhia dos homens, melhor se sente. Como os famintos que recusam um alimento estragado ou envenenado, assim também devem proceder os homens que sentem falta de companhia, em relação aos demais homens, considerando o que são. Uma felicidade grande e rara é, portanto, possuir tanto em si que não se é impulsionado pelo fastio interior ou pelo tédio a procurar a companhia dos homens, sobre os quais até mesmo o nobre e brando Petrarca disse:

            Pois o homem não é apenas um animal vil e repugnante (digo isso a contragosto, quem dera a experiência não o tivesse manifestado clara e repetidas vezes e não continuasse a fazê-lo) mas também danoso, volúvel, pérfido, ambíguo, feroz e cruel! (De vita solitaria, 1346).

           Arthur Schopenhauer (1788-1860).