segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Devemos ter tolerância com toda a estultice... - Schopenhauer



            Pardon is the word to all [perdão é a palavra para tudo] (Shakespeare, Cymbeline, Ato 5, Cena 5).

            Devemos ter tolerância com toda a estultice, com todos os erros e com todos os vícios humanos, considerando que aquilo que temos diante de nós não passa de nossa própria estultice, de nossos próprios erros e de nossos próprios vícios: de fato, são os erros da humanidade, à qual pertencemos e cujos erros, por conseguinte, trazemos todos em nós, portanto, também aqueles que agora nos causam indignação somente porque, justamente agora, não afloram em nós. Aliás, não se encontram na superfície, mas embaixo, na base, e aflorarão na primeira ocasião e se mostrarão tal como agora os vemos nos outros; embora em um indivíduo se sobressaia determinado erro e, em outro, aquele outro erro, ou ainda que não se possa negar que a medida total de todas as qualidades ruins seja muito maior em um indivíduo do que em outro. Pois a diferença entre as individualidades é incalculavelmente grande. 

Schopenhauer, in A arte de envelhecer. Martins Fontes, São Paulo, 2012.