Desde criança ele fora prometido
para lata.
Mas era merecido de águas de
pedras de árvores de pássaros.
Por isso quase alcançou ser mago.
Nos apetrechos de Bernardo, que é
o nome dele, achei um canivete de papel.
Servia para não funcionar: na
direção que um canivete de papel não funciona.
Servia para não picar fumo.
Servia para não cortar unha.
Era bom para água mas obtuso para
pedra.
Havia outro estrupício nos
guardados de Bernardo.
Tratava-se de um Guindaste para Mosca.
Esse engenho, pra bem funcionar,
havia que estar ligado por uma correia aos ventos da manhã.
Funcionava ao sabor dos ventos.
Imitava uma instalação.
Mas penso que seja um desobjeto
artístico.
* * *
Manoel de Barros, in
Retrato do artista quando coisa [1998].
Nenhum comentário:
Postar um comentário